domingo, 28 de junho de 2015

Mulheres buscam cursos de tiro e já ocupam de 40 a 50% das vagas ofertadas.



Posted: 25 Jun 2015 02:08 PM PDT
Samanta, de Sorocaba, se inscreveu em curso após ser assaltada.
'Orientação é para defesa e não ataque', diz instrutor.

Quando a coach financeira Samanta Caroline de Oliveira, de 25 anos, foi rendida por um assaltante ao chegar a sua casa, na Zona Leste de Sorocaba (SP), ela teve o seu primeiro contato com uma arma de fogo. O susto foi inevitável e, apesar de só ter perdido bens materiais no dia do assalto - não chegando a ser atingida por nenhum disparo -, a sensação de impotência diante da situação a fez procurar por aulas de tiros em uma escola especializada da cidade. "A arma me assustou muito, talvez se eu já tivesse tido contato antes, ia ter ficado mais calma."
Samanta procurou curso de tiro após ser assaltada em Sorocaba 

Samanta não é a única mulher que procura por este tipo de treinamento. De acordo com um levantamento do Centro de Treinamento de Tiro de Sorocaba, as mulheres têm ocupado de 40 a 50% das vagas do curso de tiro ministrado pela unidade. Os outros 50% são ocupados por homens, que optam pelo curso tanto pela questão da segurança quanto por esporte, além de profissionais da área de segurança.

O proprietário da escola, Valter Scheidt, aponta a busca pela total independência como o principal motivo do aumento da procura por cursos de tiro pelo público feminino. "A mulher mora sozinha, ela já tem a sua independência financeira hoje em dia, então ela tem se preocupado mais com a sua segurança, sem precisar ficar dependendo, necessariamente, de homem para isso."

Mas Scheidt ressalta que o objetivo do curso é orientar estas mulheres - como qualquer outro aluno - sobre o correto manuseio de uma arma de fogo e não estimular qualquer tipo de reação em casos de abordagens de bandidos. “O nosso objetivo é ensinar o aluno da melhor forma possível, para que ele use a arma como uma forma de defesa e não de ataque”, frisa o proprietário da escola.

Para que a pessoa possa usar a arma fora do ambiente escolar, a lei brasileira exige que seja tirada uma licença de posse ou porte de arma, que é expedida pela Polícia Federal. E esse é justamente o próximo passo de Samanta. Ela garante que irá atrás da documentação necessária para conseguir a autorização para ter uma arma em casa. “Eu tenho interesse em tirar a licença, porque depois do que aconteceu, a gente fica precavida e se pergunta se pode acontecer de novo. Assim, eu vou ter uma forma de me defender. Eu moro sozinha com a minha irmã e nunca imaginei que uma coisa dessas aconteceria com a gente”, ressalta.

Mulheres na linha de tiro
A executiva de vendas Ketilin Paola Gama, de 21 anos, não passou pela mesma experiência traumática de Samanta – de ser assaltada em sua própria residência -, mas, mesmo assim, também resolveu fazer o curso de tiro. Ela conta que a sua primeira aula de tiro foi um pouco assustadora, até por conta do barulho causado pelo disparo e a reação do corpo diante do estrondo. “A sensação é de temor, afinal é muita responsabilidade ter uma arma em mãos”, conta.
Mulheres ocupam de 40 a 50% de vagas em cursos de tiro 

Ela sabe que, apesar do aprendizado adquirido no curso, ela não agirá com a mesma naturalidade que tem dentro do Centro de Treinamento em uma situação em que a obrigue utilizar uma arma. “Até por conta do nervosismo do momento não vai ser possível reagir com tanta tranquilidade, mas eu acredito que o mais importante é você ter uma noção de como é, de como segurar. E eu acho que qualquer mulher tira de letra, sei que varia de mulher pra mulher, de se adaptar com o peso da arma, que é um pouco pesada, mas é uma experiência muito bacana”.

Paola, como prefere ser chamada a executiva de vendas, também levou a companheira de trabalho, Gabriela Moura de Godoy, de 21 anos, para fazer o curso de tiro no Centro de Treinamento de Sorocaba. “Pra mim foi uma quebra de tabu, porque eu não nunca tinha pegado em uma arma de fogo, só tinha visto pela televisão, quando você pega, tem uma imagem diferente. Toda mulher tem que ter essa noção, porque querendo ou não a gente nunca sabe o que vai nos acontecer”, acrescenta Gabriela.

Pista de tiro está instalada na capital paulista

Dia de treinamento
Carlos Roberto Rui é o instrutor responsável por ministrar o curso de tiro no Centro de Treinamento que, apesar de pertencer a uma empresa de Sorocaba, tem a pista de tiro localizada na capital paulista, único local que foi autorizado pela Polícia Federal para a prática da modalidade.

Ele conta que qualquer pessoa pode se inscrever no curso, mas que, mesmo assim, antes de tudo é feita uma análise psicológica do aluno. “A gente aceita todo tipo de público e a seleção a gente faz no momento. Se detectamos que a pessoa não tem o perfil psicológico para segurar uma arma e começar a fazer a aula, por segurança, cancelamos o contrato”, explica Rui.

A primeira parte do curso é teórica, porque, como o instrutor faz questão de frisar, é importante que as pessoas tenham uma noção de como segurar uma arma antes de manuseá-la. “É para perder o medo, porque muita gente vem e nunca viu uma arma de perto antes. Então, naquele primeiro contato toma aquele susto, mas gradativamente a gente vai ensinando a pessoa que a arma não é perigosa. O perigo é quem está atrás da arma”, acrescenta. Na parte teórica, Rui explica sobre os perigos da arma, para onde ela deve ser apontada e as normas de segurança.

Depois de explicar todo passo a passo, aí sim os alunos podem pegar em uma arma, sempre seguindo as normas de segurança explicadas anteriormente. “A maioria das pessoas na hora de apinhar uma arma já colocam o dedo no gatilho e a gente sempre ensina que o dedo nunca deve ficar no gatilho, só na hora de atirar”.

Por conta até da adrenalina do momento, o instrutor costuma brincar durante as aulas para tranquilizar os alunos. “A gente procura explicar tudo com calma, às vezes até brincando um pouco pra deixar a pessoa bem descontraída e quebrar a tensão do primeiro momento”.

Vale a pena ressaltar que, quando o aluno se posicionada em frente à linha de tiro, sempre vai estar acompanhado de um instrutor. “Como é o primeiro contato com a arma, tem que estar ao lado, às vezes até segurando na mão, porque muitos ao efetuar o disparo sentem medo e soltam a arma, dão um pulo pra trás, gritam. Mas a gente sempre vai estar ao lado para que não ocorra risco nenhum para a pessoa que está com a arma em mãos e os outros ao redor”, frisa.
Mulheres ocupam de 40 a 50% de vagas em cursos de tiro 

O Centro de Treinamento de Sorocaba também oferece uma opção mais avançada do curso, quando o aluno poderá atirar em posições diferentes: sentado, deitado e até rolando. “Nós vamos colocar alguns alvos em movimento e alguns alvos simulando que estão atirando no aluno. Pra ver a reação de quem está com a arma na mão e de repente se depara com alguma coisa atirando em você.”, conta Rui que faz questão de ressaltar que para o aluno estar qualificado para fazer essa parte mais avançada ele precisará passar algumas vezes pelo básico.

Apesar de todos os ensinamentos passados, Rui lembra que na rua a realidade é outra e que as pessoas nunca devem reagir em situações de assalto. “Uma arma apontada pra você, a pessoa já tem a vantagem de estar apontando pra você, por mais rápido e mais bem preparado que você esteja, qualquer movimento, a pessoa do lado só tem o trabalho de apertar o gatilho. Então, o que a gente orienta é estar sempre atento para não ser pego de surpresa. Se for pego, deixar levar, a vida vale muito mais do que um bem”, finaliza
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